2ª Edição
A audiência era para mostrar o Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) da Operação Urbana Consorciada (OUC). Entretanto, mais uma vez foi mostrada a maquete do projeto e apresentado o plano para infra-estrutura e as novas instalações previstas para o Centro de Niterói. Somente após duas horas de audiência foi iniciada a apresentação do EIV, que durou cerca de 20 minutos e apontou os prós e contras do projeto. Dos mais de 20 pontos apresentados, somente 5 eram apontados como positivos, dentre eles a maior arrecadação de impostos pelo governo.
Os representantes do governo na audiência afirmaram de início que ainda estão colhendo as propostas das audiências para fazer alterações no projeto. Neste ponto, a representante do Ministério Público, Dra. Renata Scarpa, solicitou esclarecimento, pois, se há um processo legislativo aberto, com o envio da mensagem do prefeito, o mesmo deveria ser paralisado e retirado ou uma substituição do estudos e demais elementos deveria ser enviada para as devidas alterações, o que não aconteceu até agora. Mesmo sob este questionamento a audiência continuou.
Dentre os dados mais relevantes sobre os impactos apresentados estão o aumento do custo de vida no Centro, o adensamento populacional (previsão de cerca de mais 80mil pessoas no bairro), a necessidade de mais escolas e unidades de saúde e a pressão de infra-estrutura gerada pelo adensamento imobiliário e populacional. Outro problema levantado foi a como ficariam as comunidades tradicionais do bairro, já que a Vila de Pescadores da Ponta D'Areia estava com sua remoção prevista no projeto. Representantes do governo afirmam que substituirão este ponto e não haverá remoções. Vale lembrar também do grande transtorno que pode ser gerado pelos espigões previstos: duas torres de 40 andares e 53 prédio de 15 a 20 andares, todos construídos e propostos pelas empreiteiras OAS, Odebrecht e Andrade Gutierrez, que realizam diversos projetos de cidade voltados somente para a especulação imobiliária.
Ao abrir a palavra para o público, o tom crítico ao projeto e a forma como ele vem sendo implementado foi marcante na maioria das falas. O presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), Daniel Mendes, entregou uma carta para a representante da Prefeitura com a assinatura de 17 ex-presidentes do IAB de Niterói, solicitando a retirada imediata do projeto para que o debate possa ser feito com os mais diversos setores da sociedade de forma democrática e participativa. Em trecho da carta, ressaltam que "uma decisão errada pode acarretar problemas irreversíveis para uma cidade". Além disso, algumas falas também criticaram a abrangência do conceito de vizinhança do EIV. O estudo considera como vizinhança somente a área de 500 metros de proximidade do projeto. Profissionais da UFF questionaram este ponto alegando que a região gera impactos para uma área muito maior da cidade devido a importância da região.
Após a audiência, a pergunta que ficou sobre a cabeça da maioria dos presentes é sobre como o governo procederá com o debate. Até o presente momomento não temos tido transparência principalmente no surgimento do projeto e na discussão de um Plano Diretor, já que o de Niterói data de 1992, tendo sido apenas adaptado ao Estatuto das cidades em 2004. Para que tal projeto seja feito, o Plano deveria ser atualizado. A professora Regina Bienenstein, do UFF Cidade, avaliou que "a audiência do dia anterior teve uma apresentação muito longa do que já fora visto e EIV não foi apresentado por completo, a parte de mobilidade urbana, fundamental para a cidade, não foi apresentada". Além disso, Regina ressaltou que a "faixa de vizinhança foi tratada como se fosse a construção de um edifício e não de toda uma região da cidade."
Protesto marca volta do recesso parlamentar
Além da audiência, a população compareceu à Câmara Municipal no dia 01 de agosto para cobrar que os vereadores não votem o projeto de Rodrigo Neves., e que o prefeito retire o mesmo para debater. Cerca de 50 pessoas participaram do ato. Apesar de a sessão ter durado menos de 10 minutos, os manifestantes permaneceram na Câmara. Em seguida uma comissão composta pelo IAB, pelo Fórum de Política Urbana (FOPUR) e pelo UFF Cidade foi recebida pelo presidente da casa, o vereador Paulo Bagueira. A bancada do PSOL acompanhou a reunião com a comissão enquanto os 50 manifestantes ocupavam a praça da Câmara Municipal com palavras de ordem contra Rodrigo Neves.
Na reunião o presidente da Câmara assumiu o compromisso de realizar audiências públicas e ouvir a posição dos movimentos organizados e suas propostas para o Centro da Cidade Sobre o ato, Regina Bienenstein ressaltou que "a população ainda não está informada totalmente sobre o projeto e a reunião foi proveitosa para que os movimentos fossem ouvidos". Apesar de só o prefeito poder retirar o projeto, Regina disse: "Pedimos que retardassem a votação do projeto para que seja mostrado o que está sendo criticado no projeto."
Agenda de debates e atos sobre a OUC:
Terças, quartas e quintas-feiras: sessões da Câmara Municipal (importante a presença da população para pressionar que o projeto atual não seja votado e aprovado).
07/08 - 17h - Debate sobre a OUC realizado pela AGB (Associação de Geógrafos do Brasil) - Local: Instituto de Geociências da UFF Campus Praia Vermelha
19/08 - 17h - 2ª Audiência Pública sobre a OUC - cont. apresentação do EIV - Local: CDL - Rua Andrade Neves 31
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