Em Niterói um grupo de cerca 50 pessoas promoveu um “rolezinho” no Plaza Shopping, no início da noite de sábado 18/01. Os manifestantes entraram no centro comercial gritando palavras de ordem contra a discriminação racial e repetindo expressões usadas em protestos como “não vai ter Copa”. As lojas foram orientadas por seguranças a fechar as portas e o protesto seguiu pelos corredores, de forma pacífica. Nada foi danificado nem qualquer produto roubado.
Os “rolezinhos” podem ser o estopim para a retomada das lutas da juventude feitas nas jornadas de junho de 2013. Os conservadores de sempre estão com medo da volta das mobilizações das massas populares na luta por seus direitos, apesar de não admitirem. Não é por outra razão que Dilma e Geraldo Alckmin foram a público declarar que não são contra os rolezinhos. Apesar das declarações, seus governos vêm aprofundando a segregação urbana, colocando os pobres cada vez mais longe dos centros urbanos através de remoções para construções das obras da Copa do Mundo 2014 e das Olimpíadas 2016
Origem do “rolézinho”
A imagem urbana do primeiro rolézinho foi registrada pelo documentário
Hiato, organizada e protagonizada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) visitando um shopping da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, o Rio Sul. Os frequentadores habituais do shopping, apesar de sabedores da realidade cheia de contrastes e contradições que os cercam, mal conseguiram esconder o preconceito que sentiam pela incômoda presença e convivência forçada com a população de baixa renda. Naquele dia em especial, a população pobre do Rio presente no shopping em busca de diversão e lutando pelo direito de ocupar todos os espaços da cidade, teve mais uma demonstração do quanto ela é discriminada e segregada. O vídeo em si diz tudo.
A exclusão causada pelo capitalismo neoliberal pode ser representada no vídeo de diversas formas: estranhamento no olhar de uma parte das pessoas ricas com relação aos pobres; através da percepção de suas roupas pobres, suas peles e cabelos mal tratados; pelas suas moradias na rua e pelo seu trabalho árduo; na desconfiança do policial que invade ônibus, que se encaminha para o shopping tentando proibir seu acesso às lojas e praças de alimentação. Tal impedimento só não ocorreu porque as câmeras do documentário gravaram tudo e, sobretudo, por um trabalhador indagando se eles eram proibidos por lei de ir ao shopping, o que deixou o policial impossibilitado de ação. O documentário registra o constrangimento causado pela trabalhadora do MTST aos consumidores do local, só porque a trabalhadora experimentava roupas que provavelmente jamais teria condições financeiras de possuir, além do mal estar causado pelo trabalhador que pergunta quantos meses de trabalho o vendedor da loja precisaria para comprar aquelas roupas que estava vendendo.
Todo esse estranhamento reflete um pensar elitista de parcelas das classes sociais mais abastadas que não estão preparadas para conviver com as diferenças; que há muito tempo abandonou a idéia de cidade como local de encontro; que prefere a segregação espacial e social; que fortalece ideais cada vez mais individualistas; que em sua maioria se assusta com a defesa de ideais igualitários que os movimentos sociais trazem de dentro de si; que procura o shopping para se afastar da pobreza e dos conflitos que permeiam as relações sociais na cidade e por isso se sentiram afrontados com a cena urbana protagonizada pelo MTST.
É claro que a manipulação das mídias e a falta de informação são as bases que garantem parte desta posição. Porém, a busca por enclaves fortificados, ao invés de garantir a paz para os privilegiados, fortalecerá infelizmente a segregação e o conflito de classes. Por isso é necessário retomar a idéia da cidade como local por excelência da construção da convivência, pois só assim se poderá começar a pensar como seria possível uma cidade compartilhada por todos os indivíduos. Para este ideal se concretizar precisamos construir uma sociedade com plena justiça social. Está sociedade precisa ser socialista.
A titulo de contribuição para a reflexão sobre o tema, indicamos a seguir um
link para um texto da estudante de pedagogia da UFF, Tainá Vale (militante do movimento estudantil do coletivo Estudante em Construção) que faz parte dos jovens que constroem os “rolézinhos”em Niterói.